Mesmo após atingirem a marca da vida útil, este material ainda consegue ser sustentável, se descartado corretamente (Imagem: Envato)
O que fazer com milhões de painéis solares que inevitavelmente serão descartados nas próximas décadas? O problema, que à primeira vista parece distante, começa a instigar e mobilizar a busca por alguma solução viável. A reciclagem de painéis solares não é apenas um desafio ambiental, mas também se torna uma oportunidade econômica promissora que pode transformar a maneira como gerimos a energia limpa.
De acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, na sigla em inglês), o potencial de crescimento desse mercado é impressionante. Em 2030, o valor dos materiais recuperados através da reciclagem de painéis solares pode alcançar US$450 milhões. E mais impressionante ainda é que, até 2050, esse valor pode saltar para US$ 15 bilhões, com o mercado de reciclagem correspondendo a cerca de 6% dos investimentos globais em energia solar. Mas por que esse valor é tão significativo?
Os painéis solares são tão recicláveis quanto uma latinha de alumínio e têm uma vida útil de cerca de 25 a 35 anos. Compostos majoritariamente de vidro (70%) e alumínio (18%), esses materiais são recicláveis com alta eficiência, o que significa que, com os métodos adequados, eles podem ser reaproveitados em novos produtos, reduzindo o impacto ambiental do descarte. Além disso, com o aumento da demanda por energia solar, a quantidade de painéis descartados também será expressiva: Ainda segundo o IRENA, estima-se que até 2050, o mundo terá 78 milhões de toneladas de painéis prontos para serem reciclados.
Mas como funciona o processo de reciclagem desses equipamentos?
Tudo começa com a remoção da moldura de alumínio que envolve o painel. Em seguida, o vidro é separado das células fotovoltaicas. Essas células são submetidas a um processamento térmico, onde o calor remove qualquer material plástico ou orgânico que as cubra. Depois disso, os chamados wafer de silício, que são o coração do painel solar, passam por um processo de decapagem para que o silício possa ser recuperado. Outros materiais, como o cobre e a prata também são extraídos e reutilizados.
Na União Europeia, desde 2012, a reciclagem de painéis solares se tornou tópico indispensável. Nos Estados Unidos, no entanto, essa obrigatoriedade depende de cada estado, o que gera uma abordagem menos uniforme. Já no Brasil, a discussão sobre a regulamentação dessa atividade ainda está engatinhando, mas já se observa a necessidade de antecipar soluções para se evitar um problema ambiental em larga escala.
Além do óbvio benefício ambiental, a reciclagem representa uma importante fonte de receita. Como o mercado de energia solar continua a crescer globalmente, os materiais recuperados podem ser inseridos na cadeia produtiva, reduzindo a necessidade de extração de novos recursos naturais e fomentando uma economia mais circular.
Para se ter uma ideia, o alumínio recuperado de painéis solares pode ser reutilizado em diversos setores, desde a construção civil até a fabricação de novos produtos eletrônicos. O vidro, por sua vez, pode voltar a ser utilizado em novos painéis solares ou em outras indústrias. Contudo, o desenvolvimento dessa indústria ainda enfrenta desafios no que diz respeito à criação de infraestrutura adequada para a reciclagem em larga escala e à falta de regulamentação em muitos países.
Aqui no Brasil, o mercado de energia solar está em crescente expansão, e a conscientização sobre a necessidade de reciclagem acompanha esse crescimento. Ainda que o país ainda tenha um longo caminho a percorrer em termos de regulamentação e infraestrutura, o futuro da energia limpa dependerá cada vez mais da capacidade de integrar tecnologias sustentáveis ao ciclo de vida dos produtos.
A reciclagem de painéis solares é um campo ainda emergente, mas com um potencial gigantesco. Se as estimativas da IRENA estiverem corretas, nos próximos anos, veremos a transformação de um problema ambiental em uma nova fonte de renda e inovação tecnológica. Afinal, no mundo da sustentabilidade, o futuro depende de como aproveitamos os resíduos de hoje para construir um amanhã mais limpo.