Medida busca reduzir pressão sobre o sistema elétrico e otimizar a geração de energia pelas fontes solar e eólica (Imagem: Internet)
Você já parou para pensar que boa parte da energia que está mantendo seu celular ou computador ligado agora mesmo pode ter sido gerada por painéis solares? Isso mesmo. Hoje, a eletricidade que você usa não vem apenas das grandes hidrelétricas ou termelétricas, mas de um sistema cada vez mais eficiente e inteligente espalhado todo o Brasil. E agora com o possível retorno do horário de verão, não é só o relógio que pode ser adiantado, mas também os benefícios para o setor elétrico.
O Ministério de Minas e Energia estuda um possível retorno do horário de verão. Desde que foi extinto em 2019, o debate sobre sua eficácia voltou à tona em momentos estratégicos, especialmente agora, quando a crise hídrica ameaça a principal fonte de energia do país: as hidrelétricas.
Há quatro anos, quando o horário de verão foi abolido, a participação da energia solar na matriz elétrica nacional era quase irrelevante, representando apenas 1,97%. Naquele momento, a economia energética proporcionada pelo horário de verão já não parecia justificar sua continuidade, com uma redução de consumo de apenas 0,5% – um percentual que, diante das mudanças tecnológicas e estruturais que o setor elétrico brasileiro enfrentava, parecia pouco expressivo.
De um coadjuvante a protagonista: o salto da energia solar
Desde então, o cenário energético do Brasil passou por uma transformação significativa. A energia solar, que antes ocupava uma posição secundária, cresceu de maneira exponencial, principalmente, pela popularização da chamada “geração distribuída”. Hoje, as usinas solares e os sistemas de geração distribuída – aqueles instalados em telhados de residências, comércios e propriedades rurais – representam 19,9% da matriz elétrica nacional, o equivalente a 47,4 GW de potência instalada. Para ter uma ideia do que isso significa, essa capacidade equivale à produção de 3,4 usinas hidrelétricas de Itaipu.
O avanço da geração distribuída permitiu que consumidores comuns se tornassem também produtores de energia, injetando o excedente gerado em seus painéis solares na rede elétrica e contribuindo diretamente para o abastecimento nacional. Essa revolução silenciosa nas telhas e fazendas do Brasil fez com que o papel do horário de verão na economia de energia ganhasse uma nova perspectiva.
O impacto do horário de verão na nova matriz energética
Mas como o retorno do horário de verão se conecta diretamente com o avanço da energia solar? A resposta está na forma como a energia é consumida e gerada ao longo do dia. Durante o verão, os dias são mais longos e a oferta de luz solar é mais abundante, especialmente nas regiões mais ensolaradas do Brasil, como o Nordeste. Com a aplicação do horário de verão, o consumo de energia durante os horários de pico – tradicionalmente no final da tarde e início da noite – pode ser deslocado para momentos em que ainda há incidência de luz solar. Isso significa que as casas, empresas e fazendas que possuem sistemas de geração distribuída podem continuar a produzir e injetar energia na rede por um período maior.
Além disso, a maior oferta de energia solar disponível diminui a necessidade de acionar usinas termelétricas, que, embora eficientes em momentos de escassez, são mais caras e poluentes. O alívio sobre os reservatórios das hidrelétricas, que sofrem com os efeitos das secas prolongadas, também é um ponto crucial.
Crise hídrica e o papel do horário de verão como solução
Com a crise hídrica se agravando, a volta do horário de verão pode ser um fator para evitar apagões e controlar a oferta de energia sem precisar recorrer a medidas drásticas, como o racionamento. Desde 2021, os níveis dos reservatórios das principais hidrelétricas do país atingiram patamares alarmantes, levando a uma alta no preço da energia e ao acionamento constante das termelétricas, que representam uma saída emergencial, mas onerosa.