Tempestades elevam casos de apagões e milhões de brasileiro ficam sem eletricidade (Foto: Reprodução internet)
Nos últimos tempos, as quedas de energia têm se tornado uma experiência frustrante e cada vez mais comum para milhões de brasileiros. Em outubro deste ano, aproximadamente 3 milhões de pessoas foram afetadas por apagões na Grande São Paulo, o que gerou grandes transtornos e prejuízos. No entanto, a questão vai além de uma falha técnica ou um simples descuido na rede de energia: esses eventos são um reflexo direto das mudanças climáticas e das limitações da infraestrutura atual para lidar com os novos desafios impostos pela natureza.
Clima extremo e infraestrutura sobrecarregada: como o clima impacta a rede elétrica
O Brasil, assim como outros países, vem enfrentando uma onda crescente de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, ondas de calor intensas, enchentes repentinas e incêndios florestais. Esses fenômenos causam grandes impactos no sistema de energia. Com secas severas, os reservatórios das hidrelétricas, que são responsáveis por mais de 60% da geração de eletricidade no país, não conseguem armazenar água suficiente. Esse déficit hídrico obriga o governo a recorrer a outras fontes de energia, como as usinas termelétricas, que são mais poluentes e têm um custo mais alto para o consumidor.
Em 2023, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) tem emitido com frequência alertas de “perigo potencial” para a ocorrência de tempestades severas e ventos fortes. Esses ventos e tempestades impactam diretamente o fornecimento de energia, causando quedas de árvores sobre cabos de alta tensão, rompendo linhas de transmissão e danificando subestações. Esse ciclo de eventos reflete a fragilidade de uma infraestrutura elétrica projetada décadas atrás, que agora precisa resistir a novos padrões climáticos mais extremos e frequentes.
O papel das mudanças climáticas na frequência dos apagões
As mudanças climáticas têm origem em atividades humanas, principalmente na queima de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural, que liberam grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera. Esse acúmulo de CO₂ intensifica o efeito estufa, elevando a temperatura do planeta e alterando padrões climáticos de forma drástica. Esse aquecimento global intensifica os fenômenos naturais: secas se tornam mais longas e intensas, tempestades se tornam mais violentas, e os ventos ganham força.
Segundo a ONU, o Brasil registrou 12 eventos climáticos extremos apenas no último ano, incluindo secas severas e tempestades incomuns. Esses fenômenos são mais do que um alerta para as empresas e autoridades do setor elétrico: são uma prova de que a infraestrutura atual não é suficiente para lidar com a crescente pressão dos eventos climáticos. Além disso, o aumento na demanda por eletricidade nas grandes cidades, impulsionado pelo uso intensivo de aparelhos de ar-condicionado e aquecedores devido às ondas de calor e frio, sobrecarrega ainda mais o sistema.
Os prejuízos dos apagões: impactos econômicos e sociais
Além dos incômodos imediatos para a população, os apagões têm consequências econômicas e sociais significativas. Setores como a indústria e o comércio enfrentam perdas financeiras quando o fornecimento é interrompido, pois muitas empresas dependem diretamente da eletricidade para manter suas operações e atender seus clientes. Em situações mais graves, o transporte público e os serviços de saúde são impactados, afetando diretamente a vida das pessoas. Nas residências, os apagões geram transtornos e preocupações com a segurança, já que a falta de energia pode comprometer o funcionamento de alarmes e a iluminação pública, o que aumenta o risco de acidentes e insegurança.
Além disso, essa instabilidade na rede elétrica faz com que o país recorra a alternativas energéticas emergenciais, como o uso de geradores a diesel em casos de interrupções prolongadas, o que eleva ainda mais os custos e gera emissões de CO₂, contribuindo para um ciclo vicioso que reforça as próprias mudanças climáticas.
Renováveis podem ser a solução para diminuição dos apagões
Em um cenário onde o clima se torna cada vez mais imprevisível, expandir o uso de fontes de energia renováveis é uma solução promissora. O Brasil possui um enorme potencial para a geração de energia solar e eólica, que não dependem de reservatórios de água e são mais resilientes às mudanças do clima. Essas fontes renováveis, além de serem sustentáveis, aliviam a pressão sobre o sistema de hidrelétricas, oferecendo uma alternativa limpa e de baixo impacto ambiental.
Investir em energias renováveis, no entanto, exige planejamento e investimento. Além de aumentar a capacidade instalada, é fundamental modernizar as redes de transmissão e distribuição de energia para torná-las mais resistentes aos eventos climáticos extremos. Tecnologias como redes inteligentes (“smart grids”) permitem que o sistema identifique falhas de forma mais ágil, redirecione o fornecimento de energia e minimize os impactos em caso de quedas. Com essas inovações, os consumidores poderiam ter uma experiência mais estável e confiável, mesmo durante situações climáticas adversas.
A questão energética não é apenas uma questão técnica ou econômica, mas também ambiental e social. À medida que a crise climática se agrava, as consequências se tornam cada vez mais visíveis em nossas vidas cotidianas. Proteger o sistema elétrico brasileiro e adaptá-lo para o futuro é uma medida que, além de evitar apagões, ajuda o país a mitigar os impactos das mudanças climáticas, contribuindo para um ambiente mais saudável e uma sociedade mais segura e resiliente.