Usina solar construída próxima ao ‘sarcófago’ da antiga usina nuclear (Imagem: Genya Savilov/AFP)
A catástrofe de Chernobyl deixou um legado de devastação e radiação que transformou a região em um deserto nuclear. Em 26 de abril de 1986, o mundo testemunhou o maior desastre nuclear da história quando o reator 4 da Usina Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu durante um teste de segurança. A catástrofe lançou uma nuvem radioativa que se espalhou por grande parte da Europa, contaminando solos, águas e afetando a vida de milhares de pessoas. Após décadas de abandono, uma nova oportunidade surge: a instalação de uma usina de energia solar no local, capaz de transformar um cenário de destruição em uma fonte de energia limpa e sustentável.
A área ao redor da usina, conhecida como Zona de Exclusão, cobre cerca de 2.600 km² ao redor da usina nuclear e foi criada para impedir que a radiação se espalhasse ainda mais. Apesar de a área ser inabitável para humanos devido aos altos níveis de radiação, especialistas têm explorado novas maneiras de utilizar essa vasta extensão de terra de forma segura e produtiva.
A ideia da consrução de um parque solar surgiu em 2016, quando o governo ucraniano, em parceria com investidores estrangeiros, iniciou estudos sobre a viabilidade de instalar painéis solares na Zona de Exclusão. A radiação que contamina o solo não afeta a operação dos painéis solares, que podem ser montados em estruturas acima do solo, minimizando o contato com a superfície radioativa.
O primeiro projeto-piloto foi inaugurado em 2018, com 3,8 mil painéis solares que geram de 1 megawatt (MW) de potência, suficiente para abastecer cerca de 2 mil residências. Este parque solar está localizado a apenas 100 metros do sarcófago de concreto que cobre o reator 4, um símbolo de como a tecnologia pode florescer mesmo nas proximidades de um dos locais mais perigosos do planeta.
Um dos principais fatores que torna Chernobyl uma localização estratégica para a energia solar é a presença de infraestrutura elétrica pré-existente. Antes do desastre, a região era uma fonte significativa de energia para a Ucrânia e seus vizinhos, com uma vasta rede de linhas de transmissão. Essa infraestrutura, agora subutilizada, foi reaproveitada para distribuir a energia solar gerada, o que reduz os custos e acelera a implementação de novos projetos. Desde 2000, quando houve o fechamento da usina, essa foi a primeira vez que houve geração de energia.
Além disso, o custo de terra em nos arredores da antiga usina é extremamente baixo já que a região não pode ser utilizada para agricultura, habitação ou indústria tradicional. Isso permite que grandes parques solares sejam construídos com um investimento relativamente menor em comparação com outras regiões.
A instalação de painéis solares em na região não só oferece uma solução sustentável para a produção de energia, mas também representa uma fonte de renda para o país. A Ucrânia, que ainda depende de combustíveis fósseis, vê na energia solar uma alternativa para diversificar sua matriz energética e reduzir sua dependência do gás natural russo.
Embora promissora, a transformação de Chernobyl em um parque solar enfrenta desafios. A manutenção dos painéis solares em uma área com níveis residuais de radiação requer cuidados especiais, como a proteção dos trabalhadores e o monitoramento constante da radiação. Além disso, a expansão do projeto depende de investimentos e de parcerias internacionais.
No entanto, o sucesso inicial do projeto serve como um exemplo poderoso de como áreas devastadas ainda podem ser repensadas e reutilizadas para o bem da sociedade. A visão de transformar Chernobyl em um centro de energia solar é um testemunho da capacidade humana de inovar e se adaptar, mesmo nas circunstâncias mais adversas.
O deserto nuclear de Chernobyl, que por décadas simbolizou destruição, agora está no caminho para se tornar um farol de renovação através da energia solar. Essa iniciativa não apenas reabilita uma área devastada, mas também destaca a importância da energia limpa e renovável. A história de Chernobyl pode, portanto, ser reescrita, passando de um capítulo sombrio para um exemplo de como a humanidade pode encontrar soluções sustentáveis mesmo nos lugares mais inesperados.